Para FUP, gestão da Petrobras ignora papel social da empresa, ao reajustar em 6% o preço do gás. Piora pode vir com fim do auxílio emergencial e sem uma política governamental que garanta renda ao pobres.
A carne já não faz mais parte da lista de compras da família de Edjane Alves das Neves, em Sergipe. A dona de casa, o marido e os três filhos sobrevivem com o valor do Bolsa Família, de R$ 178 reais, e da pescaria do companheiro, e com a cesta básica já limitada, ela ainda prevê um piora.
Segundo Edjane, será preciso tirar o café e diminuir os alimentos cozidos ou usar lenha, caso o preço do botijão chegue entre a R$ 100,00 como projetam revendedores, após a direção da Petrobras reajustar em 6% o preço do GLP em suas refinarias, na última quinta-feira (7). Foi o primeiro reajuste de 2021 e o décimo desde maio de 2020. Segundo a própria companhia, o gás de cozinha subiu 21,9% no ano passado, mesmo com a pandemia.
Com o corte do auxílio emergencial, a dona de casa passou a receber o valor normal do Bolsa Família, desde o mês passado, e já precisa cortar a compra da carne, remédios, e outros produtos em lojas e farmácia.
“Se o gás aumentar para R$ 100 teremos que comprar suco ao invés de café para não ter que ferver a água, e bolachas e biscoitos para não ter que cozinhar. Até a lenha está difícil por aqui, porque eu moro perto de rio”, explica Edjane, que é ribeirinha de Betume, município de Neópolis (SE), que completa: “A pesca tem mês que tem renda, tem mês que não. Não dá para contar”.
Política de preços da Petrobras afeta os mais pobres
A população mais pobre do Brasil, já gravemente afetada pela crise econômica e social decorrente da pandemia da Covid-19, que vem gerando taxas de desemprego recordes, sofre ainda mais por causa da política de paridade internacional de preços aplicada pela Petrobras nos combustíveis, principalmente no gás de cozinha (GLP).
Na avaliação da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e seus sindicatos, a situação tende a piorar a partir deste mês, com o fim do auxílio emergencial e a ausência de ações do governo para garantir renda aos mais necessitados.
Num momento dificílimo como o atual, com a pandemia fora de controle, o desemprego e a desocupação dos trabalhadores em níveis recorde e a disparada dos preços dos alimentos, a Petrobras ainda reajusta seus combustíveis olhando para o exterior, critica o coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar.
“A empresa esquece do seu papel social, ainda mais sendo controlada pelo governo. E a situação é ainda pior com o gás de cozinha, usado pela população mais pobre. O resultado é que essas pessoas estão trocando o gás por lenha, porque não têm como pagar pelo produto. E esse quadro vai se agravar com o fim do auxílio emergencial”, avalia Bacelar.
Para a FUP, não é coincidência, que os dados preliminares do Ministério de Minas e Energia (MME), revelam que as vendas de gás de cozinha caíram 20% em 2020, na comparação com 2019.
“Com o reajuste, em várias cidades no país, o botijão de gás de cozinha de 13 quilos vai se aproximar dos R$ 100,00. É um terço do auxílio emergencial, o que já seria absurdo. Imagine a situação com o fim do auxílio neste mês, e sem qualquer sinal de um novo apoio financeiro por parte do governo de Jair Bolsonaro [ex-PSL] , que continua sem se importar com a população brasileira”, complementa Bacelar.
Mobilização à vista
Em seu calendário de mobilizações em 2021, a FUP vai promover o “Dia Nacional de Luta em Defesa da Redução do Preço do Botijão de Gás”, com mobilizações em diversas cidades do país, articuladas em conjunto com os sindicatos.
A ação, ainda sem data definida, pretende mostrar à população o preço justo do gás de cozinha, repetindo a campanha “Combustíveis a preços justos”, promovida pelos petroleiros em diversas cidades do país durante a greve da categoria, em fevereiro de 2020.