Sem a participação de estudantes pobres, pretos e indígenas, Enem 2021 foi aplicado em meio à grave crise no Inep e acompanhado de perto por comissões da Câmara e do Senado
A primeira prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021, realizada neste domingo (21), trouxe como tema da redação “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”. A questão foi pretexto para uma série de críticas ao governo de Jair Bolsonaro. Em comentários nas redes sociais, a falta do registro civil é porta para o acesso à cidadania no Brasil, que tem sido cada vez mais negada pelas suas políticas do governo. A segunda prova está marcada para o próximo domingo (28).
“Uma das principais invisibilidades em registro civil e que prejudica muito acesso a cidadania no Brasil é o fato da dificuldade de trans e travestis obterem seu nome social! Essa é a triste realidade, e se for essa a prova com a cara do governo, Bolsonaro falou a verdade”, escreveu o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) Iago Montalvão em seu perfil pessoal no Twitter.
Já a entidade que ele preside, em seu perfil oficial, comentou que “para garantir o acesso ao registro civil no Brasil é obrigatório se pensar em políticas públicas que incluam a população LGBT, povos originários e pessoas que estão em locais isolados”.
Enem e Bolsonaro
E outro post, aproveitou para alfinetar Bolsonaro: “E a pergunta que fica: quanto o governo Bolsonaro fez? Num governo que nos nega o acesso à educação, saúde e direitos básicos, os estudantes terão que falar sobre os desafios de se conseguir ser um cidadão no nosso país.”
Na parte de ciências humanas do Enem havia questões sobre racismo e uma outra trazia no enunciado do teste um trecho da música Admirável Gado Novo, de Zé Ramalho. Lançada em 1979, a canção leva a uma reflexão sobre os anos de ditadura, embora “gado” seja também muito associado à figura dos eleitores e seguidores do presidente.
Por isso, a temática geral da prova chegou a surpreender muitos candidatos.
Crise no Inep
O Enem foi realizado em meio a uma crise sem precedentes no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pelo Exame, a partir da saída coletiva de 37 servidores. Houve também denúncias de assédio moral e interferências na elaboração da prova. A crise chegou ao ápice nesta semana, quando Bolsonaro disse que “finalmente a prova tem a cara do governo”.
Partidos de Oposição foram esta semana ao Ministério Público Federal (MPF) e ao Tribunal de Contas da União (TCU) pedir investigações e o afastamento do presidente do órgão, Danilo Dupas Ribeiro. Além disso, duas comissões especiais foram formadas no Congresso Nacional para acompanhar a aplicação das provas e reunir e encaminhar denúncias de irregularidades.
Com o menor número de candidatos inscritos – pouco mais de 3,1 milhões –, esta edição do exame tem sido chamada de “Enem da Desigualdade”. Estudantes pobres, pretos e indígenas, em sua ampla maioria, não se inscreveram. Essa parcela foi diretamente prejudicada pela falta de investimento dos governos. Sem acesso a notebooks e internet em casa, não puderam assistir às aulas.
Redação: Cida de Oliveira